Há tempos me questiono sobre os efeitos das crises pelas quais passamos e por que esses efeitos estão cada vez mais fortes. Conversando com executivos, lendo e me aprofundando sobre o assunto, cheguei a algumas possíveis respostas. Um conhecido ditado diz: “Depois da tempestade vem a bonança”. Porém, é bom lembrar que para que a bonança apareça não adianta ficar esperando pelos belos e melhores dias – é preciso agir.
Marinheiros devem estar preparados, treinados e atentos para enfrentar momentos difíceis em alto mar: ondas imensas, correntes, ventos fortes, furacões e até calmarias. A cada retorno ao porto, após uma viagem atribulada, rememoram o que aprenderam e usam o conhecimento adquirido para melhor se prepararem para as próximas viagens. Enfrentar dificuldades os fortalecem e os tornam mais resilientes.
Muitos profissionais e organizações não se preparam para passar por tempestades, apenas surfam nas ondas dos momentos de vacas gordas. Com essa passividade, não se atentam aos custos, às despesas e à austeridade. Resultado: não sabem inovar e se reinventar, por isso sofrem abalos a qualquer ameaça de tempo ruim.
Bons ventos de popa relaxam comandantes e marinheiros. Períodos de economia em alta, com vendas fáceis, tornam as empresas e seus profissionais desatentos, fazendo-os esquecer dos planos estratégicos e táticos de médio e longo prazo. Profissionais deixam de lado seus planos de desenvolvimento pessoal, de carreira e até de vida. Pensam que se o presente está bom, o futuro também estará. Aqui vale a velha frase do automobilista Mário Andretti: “Se tudo parece estar sob controle, então você não está indo rápido o suficiente”.
De forma recorrente, percebo que os profissionais que nunca se descuidam da gestão das suas carreiras são os que melhor desfrutam os tempos de bonança e, em consequência, os que mais apoiam as empresas para as quais trabalham. São também os que mais curtem a vida. Por isso, quando entrevisto um candidato a uma vaga, sempre questiono quanto à autogestão da sua vida profissional, pois quanto mais ativa e consciente, melhor para ele e para os negócios da empresa.
Entretanto, noto que os profissionais e as empresas que navegam com frequência por bons momentos têm por cultura o estímulo às construções coletivas e a autonomia, assim conseguem a liderança dos seus mercados e carreiras bem-sucedidas baseadas em cooperação e colaboração.
Nesse contexto começaram a surgir empresas com o propósito de facilitar a colaboração entre as pessoas. São as startups que surfam na onda das oportunidades criadas pela tecnologia. Elas ganham espaço no Brasil e no mundo trabalhando centradas no espírito da colaboração ao revisarem as necessidades das pessoas e as suas propostas. Com isso criam novos processos e diferenciais competitivos enormes.
É comum, nos períodos de tempestade, profissionais que perderam seus empregos procurarem antigos colegas para pedir ajuda para recolocação. Ora, muitas dessas pessoas pouco colaboraram e na hora do aperto vêm pedir ajuda. Imagine a vontade e o engajamento desses colegas ao receber tal demanda. Como se diz no futebol: “não joga nada e quer massagem”.
Para mim, um período de tempestade promove dificuldades que acabam se revelando fundamentais para a maturidade e evolução de todos – dos profissionais e das empresas. Fazer um mapa de navegação para as nossas carreiras ajuda-nos a vencer as tempestades.