De acordo com os dados da pesquisa Women in Business 2020, realizada pela Grant Thornton International, as mulheres ocupam 34% dos cargos de liderança sênior (diretoria executiva) nas empresas inseridas no mercado brasileiro, o que representa um aumento de 9% em relação a 2019 e faz o país avançar para a 8ª colocação no ranking composto por 32 países (do qual participam 4.812 empresas), além de superar a média global (29%). A lista é liderada pelas Filipinas (43%), seguidas da África do Sul (40%), Polônia (38%) e México (37%).
Os avanços graduais que são percebidos devem-se às iniciativas realizadas pelas empresas com o propósito de remover as barreiras à paridade de gênero em níveis mais seniores. Nesse quesito, o levantamento aponta que as corporações brasileiras têm adotado mais medidas no sentido de garantir igualdade no acesso às oportunidades de trabalho de desenvolvimento e ofertar treinamentos/mentorias, enquanto as ações de revisão dos métodos de recrutamento e definição de metas/cotas de equilíbrio de gênero são menos adotadas.
Para a líder global da Grant Thornton International Ltd, Francesca Lagerberg, políticas que garantam diversidade de pensamento na mesa de tomada de decisão, que atendam a igualdade de oportunidades no desenvolvimento de carreira e preconceito no recrutamento e desenvolvam culturas inclusivas, são uma obrigação:
Uma vez implementadas, essas políticas devem ser aplicadas e reavaliadas regularmente para avaliar sua eficácia. Quando isso é combinado com o compromisso real da liderança sênior, somente então ocorrerá uma mudança transformacional real.
Na análise da sócia da Grant Thornton Brasil, Elica Martins, o Brasil está aumentando a participação de mulheres em cargos elevados, mas ainda precisa melhorar suas políticas de incentivo à paridade de gênero:
Há a necessidade de mais medidas práticas como oferecer treinamentos, criar uma cultura inclusiva e permitindo trabalho com horários flexíveis. Ou seja, ações práticas dentro das empresas que ajudem a vencer barreiras de gênero e promovam uma cultura inclusiva em todos os âmbitos das organizações, a começar do incentivo das altas lideranças, que precisam estar comprometidas com essa política.
Consultada pelo portal Segs, a executiva do transporte e atual presidente executiva do SETCESP (Sindicato das Empresas do Transporte de Cargas de São Paulo e Região), Ana Jarrouge, defende que “isso se dá porque nos últimos anos, as mulheres entram no mercado de trabalho com a mesma competência que os homens, elas gostam de se capacitar com mais frequência e de se sentirem preparadas para assumir novos desafios a qualquer momento, e o fato de diversas empresas multinacionais estarem colocando mulheres para ocupar cargos de liderança sênior e executiva incentivam e inspiram para que isso ocorra nas demais organizações. Aliado a isso, vejo que os homens e a alta direção das empresas, estão cada dia mais abertos ao conceito de que competência não tem gênero, e abrindo portas para que as mulheres participem de processos seletivos de cargos antes ocupados somente por homens”.
Contudo, quando se trata de mulheres em cargos de sociedade (sócias), o Brasil está na retaguarda comparado a média global com apenas 4% das mulheres, mesmo percentual de 2019, ocupam a posição de sócio (Partner), enquanto a média global é de 7%. Outro tema levantado pela pesquisa são as iniciativas das empresas em remover as barreiras à paridade de gênero em níveis mais seniores. Nesse quesito, o levantamento aponta que as corporações brasileiras fazem menos que a média global.
Jarrouge também acredita que as mulheres são mais desafiadas no cotidiano do trabalho, não apenas pela empresa, mas também por suas tarefas diárias. “Desempenhamos muitos papéis e temos que fazer malabarismo para ter equilíbrio emocional entre os mesmos. A preocupação da mulher com a casa e com a família é peculiar dela, e isso é sim um desafio maior durante o dia no trabalho, por isso, acredito que um ambiente inclusivo e favorável nas empresas é de extrema importância para dar oportunidade de crescimento profissional e espaço para que as mulheres possam mostrar suas competências”.
Outras políticas pesquisadas foram: Vincular a recompensa da alta administração ao progresso nas metas de equilíbrio de gênero, onde o Brasil aparece com 18%, contra a média Global de 23%; Oferecendo treinamentos, no Brasil 21%, contra a média global de 21%; permitindo trabalho flexível, Brasil 28%, contra média global de 31%; criando uma cultura inclusiva, Brasil 30%, contra a média global de 34%; revendo abordagens de recrutamento, Brasil 20%, contra a média global de 26%; fornecendo orientação e treinamento, 33% Brasil, contra 26% na média global; garantir acesso igual a oportunidades de trabalho de desenvolvimento, no Brasil 35%, contra a média global de 34%.
Por estar em um cargo de liderança no transporte de cargas, um setor historicamente masculino, Ana, que é neta e filha de ex-caminhoneiros que se tornaram empresários, tem se tornado um exemplo a ser seguido para as mulheres do setor, mas faz questão de dizer que não está sozinha:
Nunca tive pretensão e nem imaginava chegar no cargo que ocupo hoje. As coisas foram tomando um rumo e minha trajetória nas entidades de classe acabaram me impulsionando a ocupar o cargo que estou atualmente. É fato que nas nossas entidades ligadas ao setor de transporte rodoviário de cargas temos poucas mulheres que ocuparam e/ou ocupam cargos de presidência, diretoria e liderança em geral, mas temos alguns exemplos sim.
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