*Artigo originalmente publicado no Jornal de Piracicaba
4 minutos de leitura
Neste artigo pretendo compartilhar reflexões à luz de um mundo que não se desliga da tecnologia e justamente por isso gera tantas dificuldades. Algumas são até antagônicas – como a de conectar pessoas que estão próximas fisicamente, compartilhando a sala, a casa ou o trabalho, mas só se comunicam pela internet.
Esse contexto direcionou meu radar para o futuro e me fez ter contato com a série Black Mirror, da Netflix – ficção voltada para as consequências imprevistas decorrentes da utilização exagerada das novas tecnologias. A terceira temporada da série foi uma das mais impactantes, pois retrata, em um dos episódios, um mundo onde tudo é baseado nos resultados das avaliações que as pessoas fazem umas das outras ao utilizarem um aplicativo de celular. O resultado consolidado dessas avaliações on-line impacta as relações sociais e comerciais e cria um ambiente de aparência e falsidade. Por exemplo, o ranking das pessoas define se elas serão ou não convidadas para uma festa, qual o padrão de carros que podem alugar ou qual classe de passagem aérea podem adquirir. Loucura ou não, a vida imita a arte.
A velocidade das mudanças impulsionadas pela utilização das novas plataformas tecnológicas alterou o nosso modus operanti de viver, conviver, relacionar, pensar, trabalhar e, principalmente, a relação com o tempo – antes tínhamos horários para fazer as coisas, agora qualquer hora pode ser a hora.
Qual seria o impacto em sua vida se não tivéssemos mais acesso a essas tecnologias? Percebemos na pandemia do coronavírus que elas foram ainda mais amplamente utilizadas, garantindo que muitos continuassem produtivos, mesmo sem sair de casa. Segundo Rita Loiola, em artigo publicado na Revista Galileu sobre o Futuro do Trabalho, as hierarquias flexíveis irão surgir para acompanhar o poder descentralizado das redes de produção; chegaremos à era do trabalho freelancer e colaborativo e, de certa forma, inseguro. Ela diz ainda que entraremos no tempo da busca por mais conforto, cuidados com a natureza e criatividade.
Novas gerações estão chegando ao comando das empresas e colocando em xeque antigos dogmas, entre eles o da necessidade da presença física no trabalho. Além disso, elas trazem à discussão da importância do intraempreendedorismo – formato no qual uma pessoa é, ao mesmo tempo, empregado e empreendedor interno. Aí está a importância da multicarreira nos novos ambientes corporativos.
O site “O futuro das coisas em tecnologia” divulgou que 65% das crianças que entraram nas escolas entre 2015 e 2020 provavelmente trabalharão em funções que ainda não existem. E as que nasceram a partir de 2017 terão 11 empregos e 5 carreiras em longo das suas vidas. Precisamos desenvolver novas competências para poder jogar este novo jogo.
Como a maioria das competências exigidas dos profissionais do futuro serão pautadas nos valores humanos, precisamos ressuscitar o off-line e o analógico. Se você estiver criando o seu plano de carreira, coloque metas para desenvolver estas competências, conhecidas no mercado como soft skills, porque elas o apoiarão na conquista dos seus objetivos profissionais. Acredito na força do amor ao próximo para auxiliar a constante evolução humana. E quando digo amor, não tenho como não destacar as mães, que nestes tempos têm que se dividir entre os assuntos cotidianos e a educação dos filhos plugados na alta tecnologia.
Concluo este artigo destacando que o futuro do trabalho dependerá mais das tecnologias off-line – representadas pela humanização das ações e pela empatia, que são vivenciadas mais intensamente nas relações face a face.
**Gustavo Mançanares Leme – Sócio Diretor da Tailor | Headhunter & Estrategista de RH. É Conselheiro de Administração & Advisory de Startups e Mentor de Carreiras. Tem grande experiência em processos de Identificação de Talentos, Transformação Cultural e Turnaround de Modelo de Negócios. Autor do livro O acaso não existe.